Mosca-dos-Chifres: Entenda os Impactos e as Melhores Estratégias de Controle no Rebanho Bovino

A mosca-dos-chifres (Haematobia irritans) é um dos parasitas externos mais preocupantes para a pecuária brasileira. Pequena no tamanho, mas com grande capacidade de causar prejuízos, essa praga afeta diretamente a produtividade dos rebanhos, sendo responsável por perdas significativas no ganho de peso, redução na produção de leite e até mesmo comprometimento da qualidade do couro.

Biologia do Parasita e Fatores Favoráveis à Infestação

Esse inseto hematófago se alimenta exclusivamente do sangue do gado, picando os animais várias vezes ao dia. Cada mosca pode se alimentar de até 40 vezes por dia, gerando um incômodo constante que leva a estresse, agitação e até feridas na pele. Seu ciclo de vida é rápido, podendo ser completado em cerca de 10 a 14 dias, desde a postura dos ovos até a emergência do adulto. As fezes do gado são o ambiente ideal para a reprodução da mosca, o que faz com que sistemas de criação a pasto e clima quente e úmido — típicos de boa parte do Brasil — favoreçam sua multiplicação.

Além disso, dias nublados, úmidos e mais frios também prolongam a sobrevivência dos adultos no ambiente, aumentando o risco de infestações prolongadas ao longo do ano, especialmente durante a estação chuvosa.

Impactos Econômicos e Sanitários

Os prejuízos causados pela Haematobia irritans não são apenas visíveis na saúde dos animais. Estudos indicam que infestações severas podem causar perdas de até 40 kg de peso vivo por animal por ciclo de infestação, além de queda de até 20% na produção leiteira. Lesões causadas pelas picadas também depreciam o couro, impactando o valor de mercado. O estresse contínuo torna o gado mais vulnerável a outras doenças e reduz sua eficiência alimentar.

Controle Biológico e Soluções Sustentáveis

Uma das abordagens mais promissoras no controle dessa praga é o uso de estratégias biológicas e sustentáveis que respeitam o equilíbrio ambiental:

  • Besouro rola-bosta (Digitonthophagus gazella): Esse inseto benéfico atua quebrando e enterrando as fezes do gado, interrompendo o ciclo de vida da mosca ao destruir os ovos e larvas depositados nas excretas.

  • Armadilhas visuais e atrativas: Dispositivos simples, como armadilhas azuis ou pretas impregnadas com atrativos, podem reduzir a população de moscas em até 70% quando posicionadas estrategicamente nas pastagens.

  • Integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF): Sistemas integrados proporcionam maior cobertura de solo e diversidade biológica, resultando em ambientes menos favoráveis à proliferação da mosca e promovendo o bem-estar animal.

Controle Químico com Responsabilidade

Apesar dos avanços em métodos sustentáveis, o controle químico ainda é necessário em muitas situações, principalmente quando as infestações atingem níveis críticos. No entanto, seu uso deve ser cauteloso para evitar o surgimento de resistência nos parasitas.

  • Antiparasitários tópicos (“pour on”): São fáceis de aplicar e têm ação prolongada. Produtos à base de cipermetrina, permetrina e fipronil são comumente usados.

  • Avermectinas e lactonas macrocíclicas: Além do efeito sistêmico, parte do princípio ativo é eliminada pelas fezes, atuando diretamente sobre as larvas no ambiente. Contudo, seu uso contínuo deve ser supervisionado por um médico veterinário.

  • Rodízio de princípios ativos: É essencial alternar produtos com diferentes mecanismos de ação para evitar resistência.

Prevenção, Monitoramento e Manejo Integrado

O combate à mosca-dos-chifres não deve ser feito de forma isolada, e sim como parte de um plano contínuo de manejo integrado. Entre as medidas recomendadas:

  • Monitoramento constante: Avaliação visual da carga parasitária, comportamento dos animais e sinais como inquietação, queda no apetite e aglomeração excessiva ajudam a identificar precocemente uma infestação.

  • Tratamento seletivo: Priorizar o tratamento em animais mais afetados, como vacas em lactação e bezerros, reduz custos e aumenta a eficácia do controle.

  • Rotação de pastagens e manejo de esterco: Reduzem o acúmulo de fezes e dificultam o ciclo da mosca.

Considerações Finais

O controle da mosca-dos-chifres exige um conjunto de práticas planejadas, baseadas em prevenção, monitoramento e intervenção racional. O sucesso está na combinação entre métodos biológicos, químicos e estratégias de manejo sustentável. Criadores que adotam uma abordagem integrada conseguem preservar a produtividade, a saúde dos animais e a rentabilidade do negócio.

Investir em conhecimento e boas práticas é o caminho mais seguro para manter o rebanho livre desse parasita e garantir uma pecuária mais eficiente e equilibrada ao longo do ano.